domingo, 29 de março de 2009

Atrofia mental

A atual crise econômica começou como uma bolha no setor mobiliário, mas hoje projetou-se sobre quase todos os setores da sociedade, não poupando sequer os meios de comunicação. As recentes notícias sobre o fechamento de periódicos tradicionais, levando muitos deles a se tornarem apenas eletrônicos como única alternativa de existência, premonizam uma era de maior segregação intelectual, mais um agravador às mazelas do mundo contemporâneo.
Em artigo publicado no "New Yok Times" por Nicholas D. Kristof [O meu jornal diário , traduzido na Folha de S. Paulo], ele defende a idéia de que a morte dos periódicos impressos sufocará a já deficiente troca de idéias entre pessoas e grupos divergentes. Há uma tendência dos agrupamentos humanos em se isolarem em comunidades que sejam integradas por pessoas de pensamento semelhante. O jornal, contudo, instiga o pensamento crítico, pois introduz idéias novas, críticas e criticáveis, abrindo espaço para a discussão e, portanto, amadurecimento. Remover esta peça do jogo torna-o, pois, inviável.
Embora a internet se configure uma alternativa, não podemos esperar que os resultados sejam equivalentes ou melhores. Não que haja algum problema em se conectar ao mundo por uma tela, a internet realmente é um elemento da globalização. Contudo, se considerarmos o número de pessoas que têm efetivamente contato com ela, e dessa seleta fatia, quem realmente busca a reflexão social, temos uma boa noção do que acontece. A elite, que é quem acessa a rede, dificilmente irá, por livre arbítrio, querer ver suas posições atacadas. Ler um jornal, por outro lado, expõe as idéias de diferentes autores e perspectivas, pois ele nada mais é do que uma colagem de artigos intimamente únicos.
No entanto, já bastassem as dificuldades financeiras que os periódicos enfrentam, outro grande entrave ao jornal é justamente a falta de leitores. Ainda que ele seja acessível à população, carecem aqueles dedicados ao prazer da leitura. Nas camadas menos favorecidas, a televisão configura-se a principal concorrência, pois é, inegavelmente, um meio de divulgação mais palatável, pois requer menos esforço de processamento mental. Obviamente isto a torna uma ótima ferramenta de massificação e dominação. A nova juventude já está sendo educada nestes novos padrões, adquirindo repulsa precoce (e incoerente) pelo papel.
Desta forma, ainda que lastimável, é de se esperar que a comunicação pela celulose tenda a sucumbir aos chips de computador e linhas de conexão. Contudo, a inércia frente a isto também se torna inaceitável. Permitir a falência do jornal apenas agravará o quadro social em vigor. Bloquear o pensamento crítico em prol do conforto segregacionista e limitado remete-nos aos regimes totalitários, quando o indivíduo nada mais era do que uma peça de um sistema impessoal. Tamanha leviandade não deveria ser incorporada a um espírito ávido pelo saber como é o ser humano