sábado, 19 de junho de 2010

Um mundo coberto de penas

"Crer não é nada. Não crer é pior."

Religião. Assunto delicado que geralmente provoca controvérsias. Sem partidarismos, cheguei a ser questionado sobre qual seria afinal minha religião. Catolicismo, Anglicanismo, Protestantismo, Hinduísmo, Islamismo, Espiritismo, Xintoísmo, Budismo. A diversidade é imensa, mas, em essência, poucas são as diferenças. De uma forma geral, todas as Igrejas apresentam um ícone de suma potência - mesmo nos céus existem hierarquias. E, pelo menos em tese, todas pregam mensagens positivas aos seus seguidores.
Porém ainda não consegui me identificar com nenhuma. O que não significa que eu não acredite me nada. Pelo contrário, me soa irracional não acreditar em nada. Seria extrema prepotência do ser humano considerar-se deus, ainda que os deuses sejam uma invenção do homem (afinal, o conceito de religião é algo estritamente humano). Mas, afinal, por que não poderia existir mesmo uma força-maior que, se não intervém diretamente, ao menos orquestra a nossa vã realidade?
Curiosamente, no dia em que fui questionado, Antonio Abujamra entrevistou no programa "Provocações" Rubens Ewald Filho. Também lhe fora feito este questionamento, ao que o crítico respondera que embora também não seja adepto assíduo de determinada crença, não se acredita ateu - a crença no místico proporciona conforto para viver. Nisto, Abujamra sintetiza: "Crer não é nada. Não crer é pior.". Achei genial e me identifiquei.
Mas será que mesmo o ateísmo não seria uma religião? Acreditar que não há nada de místico no mundo também é acreditar e é filosofia. Pessimista, diga-se de passagem, mas filosofia. Aquela na qual a maior força de todas é o homem. Mas o homem é fraco, erra, se rende aos prazeres e as tentações, por isso acaba pessimista.
A morte de José Saramago, ateu e pessimista convicto, reaviva debates acerca de suas posições ideológicas, muito além da sua postura política - abertamente comunista. A genialidade de sua obra é indiscutível. É com pesar que recebemos seu falecimento (decorrente de falência de órgãos por uma leucemia crônica).
Aliás, Saramago afirmava que "a morte era a diferença entre estar aqui e não estar mais". Como será a terceira margem do rio?