sexta-feira, 31 de julho de 2009

As férias e o vírus

A recomendação da Secretaria Estadual de Educação de cancelar o retorno às aulas para 17 de Agosto como uma tentativa de evitar, ou ao menos atrasar, a propagação do vírus H1N1 é positiva do ponto de vista social, mas não pode ser encarada como uma solução contra a doença no País.
Tendo-se em vista a forma como a mídia vem abordando os casos e óbitos da nova gripe, injetando nas notícias certa dose de sensacionalismo e drama, era de se esperar que se instalasse na população uma atmosfera de medo e alarde. O Estado, por sua vez, não poderia ficar omisso a isto, principalmente agora que a sombra das eleições de 2010 despontam no horizonte. Logo, demonstrações de preocupação e ação social, como esta de cancelamento das aulas, seriam inevitáveis.
A medida, porém, tem embasamento: crianças são parte do grupo de risco do vírus, e a escola é um perfeito meio de cultura para o patógeno. Contudo, o que garante que após de 17 de Agosto o risco de se contagiar será menor do que agora? Gripes, não apenas a H1N1, são normais no inverno; e é completamente improvável que neste meio tempo tenhamos desenvolvido uma vacina eficaz contra o vírus. Ainda que o foco da recomendação sejam as crianças, é inegável que o principal intuito é proporcionar alívio aos pais e à população leiga.
É fundamental que durante este período de "quarentena", o Estado promova uma maciça conscientização da sociedade. A profilaxia ainda permanece sendo a melhor ferramenta de combate à doença e ela deve, pois, ser fortemente divulgada. A auto-medicação, que parece estar ganhando força com a divulgação do Tamiflu
(Oseltamivir) da Roche, deve ser sumariamente combatida, sob o risco de que o uso indiscrimidado do medicamento selecione cepas resistentes a ele.
Os avanços científicos atuais permitem que a sociedade tenha ferramentas suficientes para evitar a desastres como a gripe espanhola ou a gripe asiática. Entretanto, problemas de ingerência alimentados pelo pânico social podem tornar ineficazes quaisquer ações de intervenção. As duas semanas de recesso propostas pelo Estado não devem ser meramente uma extensão das férias escolares, mas um momento de sanar as eventuais deficiências que possam obstruir o combate ao vírus.